terça-feira, 28 de janeiro de 2014

3º Episódio - Documentário 01



“Não trabalho nem com a inteligência nem com o pensamento, mas também não uso a ignorância” (Stela Patrocínio).



Pessoas,

Hoje estou bastante comovido por ter a oportunidade de indicar a vocês um documentário muito bacana que conta um pouco da história e da arte de uma portadora de esquizofrenia, a Stela do Patrocínio que com sua "loucura-arte" permaneceu entre nós de 1941 até 1992, quando faleceu em decorrência de uma infecção generalizada no hospital psiquiátrico onde foi internada em 1966 aos 25 anos.
Nossa estrela de hoje foi descoberta pela artista plástica Neli Gutmacher e suas estagiárias, ao ser convidada, na década de 80, a montar um ateliê na Colônia Psiquiátrica Juliano Moreira em Jacarepaguá, RJ.
Interna desde 1966 e com um histórico de mais de 30 anos em instituições psiquiátricas do Rio de Janeiro, Stela se destacava dos outros pacientes por sua fala peculiar, com alto teor poético. Algumas de suas falas foram gravadas em fitas cassetes e, quase quinze anos depois, foram transcritas, organizadas em forma de poesia e reunidas em livro pela escritora Viviane Mosé chamado "Reino dos bichos e dos animais é o meu nome" que, em 2002, foi um dos finalistas do grande Prêmio Jabuti de Literatura e, em 2005, levou a fala de Stela a ser transformada em ópera pelo compositor Lincoln Antônio.
Em meio as minhas garimpagens achei um tesouro, o documentário "Stela do Patrocínio: A mulher que falava coisas"  dirigido por Marcio de Andrade e exibido no programa "Documentação" apresentado por Leandro Alarcon no canal NBR.

   

           Acredito que esse documentário é importante para mostrar que mesmo apresentando um quadro típico de esquizofrenia hebefrênica (que é caracterizada por pensamento desorganizado, por um leve afrouxamento das associações até uma desagregação e produção de um pensamento totalmente incompreensível) suas poesias e "contações" trazem falas carregadas de angustias, desabafos sobre a política manicomial ao qual foi submetida, retratando suas impressões e relações com os demais pacientes, equipe médica, sua visão de mundo e de várias outras coisas que lhe convém. Espero que vocês gostem e possam refletir e curtir um pouco do mundo visto pela ótica poética de Stela Patrocínio.




"Não sou eu que gosto de nascer
Eles é que me botam para nascer todo dia
E sempre que eu morro me ressuscitam
Me encarnam me desencarnam me reencarnam
Me formam em menos de um segundo
Se eu sumir desaparecer eles me procuram onde eu estiver
Pra estar olhando pro gás pras paredes pro teto
Ou pra cabeça deles e pro corpo deles"                                                                                     (Stela Patrocínio)


Fonte das imagens:
http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2013/05/stela-do-patrocinio-1941-1997.html
http://capscurraisnovos.blogspot.com.br/2009/08/stela-do-patrocinio-uma-estrela-muito.html

Referências
Delgalarondo, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos mentais. Síndromes psicóticas (quadros do espectro da esquizofrenia e outras psicoses) - 2ª ed. - Porto Alegre: Artemed,2008. 331p.

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